Expor ou proteger? Os impactos da superexposição infantil nas redes sociais.

Categoria: Comportamento infantil
Atualizado há mais de uma semana.

Você já se perguntou como a exposição nas redes sociais pode afetar o desenvolvimento das crianças a longo prazo? Entenda os perigos.

Recentemente, tive o prazer de contribuir para uma matéria do site Metrópoles, que abordava a exposição de filhos por pais famosos na internet. Embora o foco da matéria tenha sido sobre celebridades, essa é uma discussão que ultrapassa os holofotes — e envolve qualquer família que esteja ativa nas redes sociais.

Como psicóloga infantil, venho observando com atenção esse fenômeno. E neste espaço, quero te convidar a refletir sobre essa prática tão comum e, por vezes, naturalizada: a exposição de crianças na internet. Vamos entender juntos o que diz a ciência, quais são os riscos e como podemos construir uma relação mais consciente com o mundo digital quando o assunto envolve nossas crianças.

Por que a exposição infantil nas redes preocupa?

Postar fotos e vídeos das crianças pode parecer inofensivo à primeira vista. Afinal, qual pai ou mãe não quer compartilhar um momento fofo, um progresso escolar, ou uma viagem em família? O problema está no excesso. Quando isso se torna recorrente, ou quando conteúdos da vida privada das crianças são compartilhados sem critério, podemos estar colocando em risco não apenas a privacidade, mas também o bem-estar emocional dos pequenos — agora e no futuro. Essa prática tem até nome: sharenting (termo em inglês que combina share – compartilhar – com parenting – parentalidade). E sim, ela já vem sendo estudada.

O que diz a ciência sobre isso?

A prática do sharenting, que envolve pais compartilhando fotos, vídeos e informações sobre seus filhos nas redes sociais, levanta questões significativas sobre privacidade e bem-estar infantil. Um estudo realizado por Cardin (2023) destaca que essa exposição excessiva pode afetar negativamente os direitos das crianças, incluindo sua privacidade e segurança, além de ter implicações legais e éticas. O artigo também aborda o sharenting comercial, onde a imagem das crianças é utilizada para publicidade, expondo-as a riscos como a exploração infantil.

Outro estudo conduzido por Sazbon e Oliveira (2024) analisa o fenômeno do sharenting e seus impactos na construção da identidade e segurança das crianças. A pesquisa ressalta que a exposição significativa nas redes sociais pode impactar negativamente os direitos das crianças, levantando questões importantes sobre privacidade, segurança e desenvolvimento infantil.

O que a Terapia Cognitivo-Comportamental nos ensina sobre isso?

A TCC parte do princípio de que nossas emoções e comportamentos estão diretamente ligados à forma como interpretamos as situações. Quando uma criança é exposta constantemente sem consentimento ou compreensão, ela pode internalizar crenças como:

  • Preciso ser divertido ou bonito para agradar
  • Se eu não gravar o vídeo, as pessoas vão deixar de gostar de mim
  • Tenho que parecer perfeito

Esses pensamentos, muitas vezes automáticos, podem afetar diretamente o desenvolvimento da autoestima e da segurança emocional. Além disso, a exposição também pode reforçar padrões de comparação, alimentando sentimentos de inadequação quando a criança se depara com a expectativa criada pelas redes.

E quando a criança ou pré-adolescente pede para aparecer?

Aqui entra um ponto delicado: o desejo da criança. Se ela demonstra querer participar dos conteúdos, é importante lembrar que, por mais que já tenham alguma noção, ainda não têm a maturidade emocional para compreender as consequências disso. O papel dos pais é o de proteger, orientar e, muitas vezes, dizer não com afeto e responsabilidade. Isso não significa ignorar os desejos dos filhos, mas sim agir com consciência sobre o que está sendo postado, o alcance que aquilo pode ter e o que está por trás daquele pedido.

Como agir com mais responsabilidade?

Aqui vão algumas orientações práticas:

  • Reflita antes de postar: Esse conteúdo expõe algo íntimo? Pode causar constrangimento agora ou no futuro?
  • Evite registros de sofrimento ou vulnerabilidade: Fotos de birras, castigos ou momentos delicados devem ficar apenas na memória da família — e não na internet.
  • Não compartilhe por validação: Se o post tem mais a ver com o seu desejo de ser validado como mãe ou pai, talvez seja hora de repensar.
  • Converse com seu filho (quando possível): Crianças maiorzinhas e pré-adolescentes já conseguem opinar. Pergunte o que acham, e respeite se não quiserem aparecer.
  • Use as redes com intenção: Redes sociais são ferramentas poderosas — mas quem deve comandá-las somos nós, e não o algoritmo.

Precisamos mesmo postar tudo?

A infância é um tempo precioso, e muitos momentos são únicos. Compartilhar é gostoso, mas guardar no coração também. Ao refletir sobre o uso das redes, estamos ensinando nossas crianças algo muito importante: que nem tudo precisa ser exibido para ter valor.

Também é importante reconhecer que, para muitas famílias, a internet é uma ferramenta de trabalho. Pais que produzem conteúdo sobre maternidade, paternidade ou rotina familiar, por exemplo, muitas vezes compartilham cenas do dia a dia como parte de sua atividade profissional. Da mesma forma, crianças que atuam como influenciadoras mirins podem se beneficiar do processo quando há alinhamento com seus interesses e limites, promovendo criatividade, organização e até flexibilidade cognitiva. O mais importante é que essa participação ocorra de forma respeitosa, com escuta ativa da criança e cuidado para que não haja sobrecarga emocional nem inversão de papéis — a infância continua sendo prioridade, mesmo quando há uma câmera ligada.

Concluindo…

A internet trouxe uma nova forma de viver — e também de educar. Como pais, mães e profissionais da infância, precisamos estar atentos não apenas aos benefícios da tecnologia, mas também aos riscos que ela pode oferecer, especialmente quando se trata da imagem e da subjetividade das crianças.

Para ler a matéria completa no Metrópoles, acesse: Famosos expõem filhos na web e geram polêmica: entenda os impactos

E se você quiser conversar mais sobre esse assunto, deixe sua opinião aqui nos comentários.

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Manuelly Cardoso

Psicóloga Infantil em Brasília

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