Como ajudar o seu filho na construção de habilidades emocionais

Categoria: Comportamento infantil Emoções Parentalidade positiva
Atualizado há mais de três meses.

Compreender o que influencia na desregulação emocional das crianças é fundamental para aprender a guiá-las de maneira construtiva e saudável.

Vocês, pais, frequentemente se deparam com reações intensas de seus filhos diante de frustrações ou tristezas. Muitas vezes, essas reações parecem desproporcionais à situação vivenciada, não é mesmo? Compreender a raiz desses comportamentos e aprender a guiá-los de maneira construtiva é essencial para o desenvolvimento emocional saudável das crianças.

O comportamento imaturo é uma manifestação natural nas crianças, especialmente nas mais pequenininhas. Isso ocorre porque o cérebro infantil ainda está em desenvolvimento, particularmente nas áreas responsáveis pelo controle emocional e pela tomada de decisões.

Imagine que o cérebro de uma criança é como um jardim em crescimento. As sementes estão plantadas, mas muitas flores e plantas ainda não desabrocharam. Com o tempo, e com o cuidado adequado, essas flores (ou habilidades) vão se desenvolvendo e florescendo.

Externamente, podemos observar as mudanças que ocorrem em uma criança em crescimento, mas internamente, mudanças significativas também estão acontecendo, especialmente no cérebro.

O cérebro é um órgão que atinge seu desenvolvimento completo por volta dos 25 anos. Com isso, uma criança de 4 anos, por exemplo, está apenas no início desse desenvolvimento cerebral. Isso significa que, considerando que 25 anos corresponde a bateria de um celular 100% carregado, se tratando de uma criança de 4 anos, e como se o cérebro dela estivesse com somente 16% de carga, ou seja, praticamente descarregado (pouco desenvolvido).

Há uma área crucial para a habilidade de regular as emoções: o córtex pré-frontal. Essa área está localizada na parte frontal do nosso cérebro e desempenha um papel fundamental em várias funções cognitivas e emocionais. É responsável pelo controle executivo, que inclui habilidades como planejamento, tomada de decisão e controle de impulsos. Além disso, regula as emoções, facilita a memória de trabalho para guardar temporariamente informações importantes e promove a flexibilidade cognitiva para adaptação a novas situações. Essas funções são essenciais para o funcionamento eficaz do cérebro em diversas atividades do dia a dia, influenciando o comportamento e a interação social das pessoas.

Uma outra parte do cérebro chamada de amígdala, é como se fosse o alarme de incêndio do nosso cérebro. O córtex pré-frontal, por sua vez, age como o bombeiro, responsável por regular essas emoções e tomar decisões racionais. O problema é que nas crianças, especialmente quando estão desreguladas, o alarme (amígdala) dispara e o bombeiro (córtex pré-frontal) ainda não está totalmente preparado para apagar o fogo.

O cérebro da criança é como uma cidade com um alarme de incêndio extremamente sensível. Qualquer pequena faísca faz o alarme soar alto, e o bombeiro ainda está em treinamento, aprendendo a apagar esses incêndios rapidamente. Por isso, vemos a criança tão desregulada emocionalmente.

Esse despreparo do cérebro (imaturidade cerebral) é um dos motivos pelos quais a criança age de maneiras tão intensas e por vezes, inadequadas.

Mas é somente a imaturidade cerebral que influencia nas reações intensas?

A resposta é não! A necessidade de atenção, inconsistência de limites e regras (que é quando diante de uma regra estabelecida, vocês cedem após o choro), fatores biológicos como fome, sono, presença de um transtorno psicológico como TDAH, autismo e outros, ambiente familiar conflituoso, dentre outros aspectos. Todos esses fatores colaboram para comportamentos de desregulação emocional.

E o que pode ser feito para auxiliar as crianças a adquirirem um repertorio de comportamentos diferentes?

Entender que a melhora desse comportamento está ligada a maturação do cérebro não significa que vocês devem ficar de braços cruzados e esperar o desenvolvimento da criança acontecer.

Mas primeiro, vamos compreender o que é desregulação e regulação emocional?

Desregulação emocional:

Desregulação emocional refere-se à dificuldade em regular as emoções de forma apropriada. Isso pode resultar em respostas emocionais intensas e desproporcionais às situações, dificuldade em controlar impulsos emocionais, e incapacidade de lidar adequadamente com estados emocionais desagradáveis como raiva, tristeza ou ansiedade, por exemplo.

Regulação emocional:

Regulação emocional é a habilidade de uma pessoa gerenciar suas emoções de maneira saudável e adaptativa. Isso inclui reconhecer, compreender e expressar emoções de forma apropriada ao contexto. Indivíduos com boa regulação emocional são capazes de controlar impulsos emocionais e ajustar suas reações emocionais conforme necessário.

Não nascemos habilidosos emocionalmente, e tais habilidades podem ser desenvolvidas e aprimoradas, e por isso, é possível agir com intecionalidade de auxiliar as crianças a construírem esse repertório das seguintes maneiras:

1. Ajudem a criança a reconhecer suas emoções

Antes de a criança saber o que fazer, ela precisa reconhecer e nomear suas emoções, como raiva, tristeza ou medo. Quando conversarem com a criança sobre algo que ela fez, nomeie o que acredita que ela estava sentindo:

“Vejo que você está com raiva porque não deixei você assistir por mais tempo.”
“Você parece preocupado com isso.”

Isso vale para crianças maiores também. Filmes, livros e outras histórias podem ajudar a expandir o repertório emocional e iniciar conversas sobre emoções.

2. Identifiquem o que ajuda a criança a se acalmar

Cada criança é única. Algumas aceitam um abraço quando estão desreguladas, enquanto outras preferem ficar sozinhas. Observem o que funciona melhor para seu filho. Ensinem e direcionem a respiração profunda, que é uma técnica eficaz para acalmar.

3. Tenham diálogos resolutivos e construtivos

Evitem conversar ou dar sermões enquanto a criança está desregulada. É mais produtivo conversar quando todos estão calmos. Durante uma crise emocional, a capacidade de raciocínio da criança é reduzida, tornando difícil que ela siga instruções ou participe de um diálogo construtivo.

4. Sejam modelos

Demonstre como você lida com suas emoções. Respire fundo na frente de seu filho e, se necessário, diga que precisa de um tempo para se acalmar. Cuidem de vocês, façam terapia se não estiverem conseguindo lidar com o que sentem, sozinhos.

5. Alimentem a conexão com seu filho

Sejam intencionais na conexão com seu filho, evite educar no automático. Interessem-se genuinamente por seu filho e dedique tempo para atividades conjuntas, como montar a lancheira ou lavar o carro. Mostre a importância desses momentos sem que pareçam obrigações.

Constância e fundamental. Não desistam rapidamente de uma alternativa.

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Manuelly Cardoso

Psicóloga Infantil em Brasília

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